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TRANSCRIçãO DE ENTREVISTA CONCEDIDA PELO SECRETARIO DE ESTADO DE TURISMO, CULTURA E ESPORTE GILMAR KNAESEL

Data: 23 de outubro de 2007

Assunto: esclarecimentos sobre o Funcultural

Entrevistador: Eugenio Lacerda - Instituto Cultura em Rede

1. Secretário, qual a principal mudança no cenário cultural catarinense a partir da implementação do FUNCULTURAL?

- Eu diria que são duas mudanças. A primeira é o percentual de recursos que o governo do estado disponibilizou para o fundo cultural. Antes, nós tínhamos até 0,2 % da receita bruta do estado liberado para a área cultural. Ou seja, havia 5 milhões de reais por ano entre mecenato e também fundo. A nova lei aumentou esse percentual para 0,5 ou seja, um percentual bem mais numeroso em termos de valores chegando já em 2005, no primeiro ano da nova lei, a algo em torno de 25 milhões de reais. é, portanto um acréscimo de valores muito grande. E a outra mudança foi a mudança do sistema. Deixamos de ser um fundo para ser mecenato, totalmente captação. Somos 100% captação.

2. Como foram concebidos os papéis do Conselho Estadual de Cultura e do Comitê Gestor no sistema?

- O Conselho mantêm a sua atribuição desde a primeira lei de incentivo. Ele é responsável pelas políticas de cultura em nosso estado e isso não foi alterado em nenhum momento. O Comitê Gestor foi criado num segundo momento para adequar orçamentariamente e financeiramente os projetos. Isso aconteceu porque se sentiu ao longo do tempo que era necessário esse processo antes da liberação do projeto. O Comitê Gestor não entra em mérito do projeto, ele entra apenas na adequação orçamentária e financeira.

3. O que motivou as recentes mudanças das regras para a captação de recursos por meio do FUNCULTURAL? O produtor cultural passa ter responsabilidade de captar investimentos destinados à infra-estrutura para a cultura?

- Como eu havia colocado anteriormente, a nova lei extinguiu o fundo, ficando apenas o mecenato, ou seja, só captação. Isso abriu uma reclamação por parte principalmente do meio cultural que precisaria ter o fundo e ao mesmo tempo o governo determinou que todos os recursos da Fundação Catarinense de Cultura e também todos os projetos e seus custeios ficassem por conta do novo recurso destinado para a lei de incentivo Se nós (Fundação) tínhamos de sair também a campo para captarmos junto às empresas catarinenses, isso seria também uma concorrência desleal com os proponentes privados para arrecadar os recursos para fazer frente a nossos projetos, para custear nossas despesas. Então, ou nós fazíamos a alteração e voltaríamos a ter o fundo para especificamente socorrer os projetos da fundação, do governo, e também dar apoio a algumas regiões do estado de Santa Catarina. Afinal, todos sabem disso que o ICMS gerado é proveniente apenas da indústria e do comércio; e tem regiões de nosso estado que são eminentemente agrícolas. Portanto, essas regiões ficariam prejudicadas. Então, houve a necessidade de mudarmos o sistema, exatamente para que nós pudéssemos socorrer os projetos do governo e de regiões onde não tem geração de ICMS para nosso estado. Eu queria dizer também que não é o proponente quem vai captar esse valor a mais e sim o empresário que vai destinar o recurso do seu ICMS. Antes, ele poderia destinar os 100% para o projeto específico e agora ele poderá destinar 60 % desse valor para o projeto e 40% para o fundo. Portanto o produtor, o proponente não é prejudicado, o projeto dele ele recebe na íntegra, ele vai captar o valor aprovado. é claro que o que acontece no primeiro momento é o aumento da necessidade de captação em mais de uma empresa ou numa mesma empresa em mais de uma parcela, mas não será prejudicado o produtor porque ele tem garantido o valor pelo qual o projeto foi aprovado.

4. Pode-se dizer então que a dotação orçamentária para a cultura é gerada no FUNCULTURAL? Houve uma mudança nesse sentido?

- Sim, isso é verdadeiro. A Secretaria da Fazenda, no começo do ano, junto com a Secretaria de Planejamento e a Secretaria da Administração nos impuseram essa nova regra. Ela foi determinada pelo Comitê Gestor do Governo no sentido de que todas as áreas vinculadas ao fundo da cultura, esporte e turismo, Secretaria e Fundação, tivessem os seus custeios também inseridos no orçamento geral dos fundos. Essa foi uma mudança de 2007, mas isso trouxe uma certa vantagem, porque nós não dependemos mais da Fonte 100 [leia-se Tesouro do Estado] para o nosso custeio, na qual nós temos que concorrer, com saúde, segurança e outras prioridades. Isso faria com que o primeiro corte a ser feito fosse nos recurso para cultura. Com isso, nós temos asseguradas as ações básicas para a nossa Fundação Catarinense de Cultura. Nós estamos também fazendo investimentos, coisa também que não ocorria nos últimos anos. A Fundação estava com dificuldades para a sua manutenção. Hoje nós temos novos projetos e ações encaminhadas para a cultura. Isso é preciso ser levado em conta que a Fundação Catarinense de Cultura voltou a agir com execução de projetos.

5. De que maneira os editais contribuem para o apoio que o estado direciona a projetos culturais?

- Esse é o grande desafio de todos nós. Eu entendo que o edital é um concurso publico, é mais democrático, transparente, com regras claras. Todos estamos atribuídos no sentido de em 2008, acelerarmos os editais. O Conselho já está formatando para vários segmentos, varias áreas. A cinemateca é um exemplo de que nós estamos cumprindo com todos os requisitos, todas as exigências. Este edital tem o apoio integral da Secretaria, do Conselho e tenho a certeza de que também todos os setores culturais estão juntos para que em 2008, nós efetivamente tenhamos uma política de editais para Santa Catarina.

6. Como tornar a tramitação dos projetos e a liberação dos recursos mais ágil e menos burocrática?

- Isso é outro grande desafio. Sem dúvida, o nosso sistema é burocratizado, é lento. Pela política da descentralização, que exige que os projetos todos tenham um trâmite inicial na Secretaria de Desenvolvimento Regional para depois irem ao Conselho, passar ao Comitê Gestor, depois passar para a carta de captação, captar os recursos, para depois ocorrer a liberação de pagamentos e depois efetuar os pagamentos. Então, é um sistema realmente burocrático. Mas nós temos que nos adequar e para isso estamos criando um novo calendário. Acho que esse também é o grande avanço que nós temos que dar. Fixar prazos para conselhos, secretarias, com calma, sem atropelamento para liberar com agilidade e rapidez para atender toda a demanda. Nós devemos melhorar o fluxo, mas principalmente eu acredito que nós podemos avançar com prazos, com novas datas, com um calendário conhecido, pré-fixado e que seja um calendário cumprido.

7. Secretário, qual o objetivo do novo cadastro de proponentes?

- Esse é um elemento já para facilitar a tramitação. O que acontece hoje: todo mundo está liberado para apresentar um projeto na área cultural. E aí quando se depara na tramitação do projeto, depois de uma análise preliminar, o projeto já tendo passado por uma série de instâncias, se depara com a falta de documentos com proponentes que às vezes têm problemas e às vezes prejudicam todo o sistema. Então essa proposta visa ajudar na tramitação. O proponente tem que se cadastrar previamente, apresentar a sua documentação, na qual ele vai ser pré-julgado no sentido da legalidade para verificar se ele pode apresentar um projeto. Isso acontece hoje ainda muito com projetos na fase final, tendo o proponente dificuldades de cadastro, de documentação. Assim, todo um sistema que funcionou esbarra numa última instância e aí o projeto já captado não pode receber. Então, esse cadastro inicial vai ser fundamental para dar mais agilidade, transparência, facilitar tanto para o proponente quanto para quem tem o poder e o dever de decidir.

8. Um novo projeto de lei está sendo redigido pela Secretaria, Conselho Estadual de Cultura e Secretaria da Fazenda. Que mudanças vêm por aí?

- Não diria que é uma nova lei. Eu diria que estamos discutindo a lei atual. Isso poderá avançar para mudanças na lei, um decreto de regulamentação ou propostas que precisam apenas de ajustes. O objetivo é desburocratizar, fazer mais ágil, atender as reivindicações. Toda a mudança de lei precisa estar aberta a mudanças, precisa ser corrigido o que está errado. Nós temos participado decisivamente junto com todo o meio cultural, desde a elaboração, para que a lei que hoje está em vigor fosse aprovada na Assembléia Legislativa. Naquela época dizíamos que era uma mudança profunda e que precisava de um tempo para ajustes. Agora, chegou o momento para ajustes e estamos abertos para isso. Formamos uma comissão liderada pelo Conselho Estadual de Cultura com a participação da Fundação e também da nossa Secretaria e da Secretaria da Fazenda. Além disso, estamos abertos para receber sugestões de todos os segmentos culturais no sentido de elaborarmos as mudanças que sejam necessárias. Estipulamos um prazo até quinze de novembro para o que precisar ser alterado na lei possa ir para a Assembléia Legislativa para ser votado ainda este ano.

9. Secretário, o que dizer às Secretarias de Desenvolvimento Regional, relativamento ao funcionamento do SEITEC?

- A Secretaria Regional tem um papel fundamental dentro da lei de descentralização aprovada pela Assembléia Legislativa e nós temos que respeitar. Hoje, qualquer projeto na esfera do governo, obrigatoriamente passa por deliberação da SDR. Esse ano foi atípico, porque houve mudanças de gerências e algumas novas secretarias foram implementadas. é preciso que os novos funcionários sejam capacitados para que a gente possa ter lá na base uma pessoa que possa auxiliar o proponente nas suas dúvidas e que ele também possa acima de tudo dar agilidade para que os projetos que dão entrada na Secretaria de Desenvolvimento Regional possam ter uma deliberação rápida. Esse ano algumas Secretarias Regionais começaram a funcionar apenas no segundo semestre. Isso causou também esse acúmulo, esse estrangulamento no sistema e vamos sentir isso ainda no fim do ano quando alguns desses projetos estarão vindo agora para a deliberação. Não há mais prazo para isso; aprovar o projeto no conselho e todos os demais trâmites não serão mais possíveis no prazo de dois meses, e esperamos que em 2008 tudo volte a normalidade, já que 2007 foi um ano atípico.

Responsável pela cultura: Departamento Municipal de Educação, Cultura e Esportes

Endereço: Rua Porto União, 968

CEP: 89883-000

Fone: (49) 3339-0855 / 3339-0190

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Município

Telefone

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Abdon Batista

3545-1133

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Margarida Salmória - Secretária de Educação

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Marjori Setti De Oliveira - Diretora de Cultura

Alto Bela Vista

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Jairo José Kaplan - Gerente de Esporte, Cultura e Turismo

Arabutá

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Rosane D. Arend - Secretária de Educação

Arroio Trinta

49 3535.6000

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César - diretor de esporte e cultura

Arvoredo

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Jacir Nardi - Secretária de Educação

Brunópolis

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Valmir - Secretário de Educação, Cultura e Desporto

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Scheilla - Responsável pela cultura

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Eliamar Terezinha Antunes Mayer - Gestora Municipal de Cultura

Capinzal

3555-2222

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Marcia Santos - Diretora de Cultura

Catanduvas

3525-1271 / 3525-1458

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Juanice Pecher - Diretora de Cultura

Celso Ramos

35.471.207

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Marcos José de Farias - Secretário de Educação

Concórdia

3442-3930

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Davacir Pichetti - Diretor da Funcação Municipal de Cultura

Curitibanos

49 3241.1555

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Abi - Coordenador de Cultura

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Alduir Antonio Mocelin - Diretor de Cultura

Fraiburgo

49 3908-2027

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Márcia - Diretora de Cultura

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Valcir Pacheco - Diretor de Cultura

Ibiam

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Marilene - Secretária de Educação e Cultura

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Sonia Mara Viero - Secretária de Educação, Cultura e Desporto

Ipumirim

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Adriana Bordinhon - Secretária de Educação, Cultura e Desporto

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Valdir Staggemmaier - Departamento Municipal de Cultura

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Vanessa Damo Curtarelli - Diretora de Turismo e cultura

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Adilson Fernandes Guanabara - Diretor de Cultura

Joborá

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Lésia Salete Finger - Gerente de Educação

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Elanderson Correia - Diretor de Cultura

Lebon Régis

49 3247.1134

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Angelina - Secretária de Educação

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Ocedir Roque Proinelli - Diretor de Educação, Cultura e Esporte

Luzerna

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Noeli Ungericht - Diretora de Cultura

Macieira

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Marlene - Secretária de Educação e Cultura

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Marcel Silvio Alves - Responsável

Monte Carlo

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Luiz Carlos - Secretário de Educação e Cultura

(Folha de S. Paulo, 7 de setembro de 2008)

Em visita a 14 teatros de SP, Folha encontra problemas de segurança em 4: CCSP, Oficina, Ruth Escobar e Satyros; e é impedida de entrar em 2: Imprensa e Renaissance

EDUARDO SIMõES
LUCAS NEVES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Folha selecionou 14 teatros da cidade de São Paulo para verificar suas condições de segurança e tentar responder à pergunta: pode se repetir a tragédia que aconteceu no teatro Cultura Artística, no mês passado, quando um incêndio destruiu sua sala principal?
Foram escolhidos espaços que recebem diferentes tipos de público. Entre os comerciais, Alfa, Frei Caneca, Folha, Renaissance; entre os tradicionais, Ruth Escobar, Sérgio Cardoso, Centro Cultural São Paulo, Municipal, Imprensa e Tuca; e, entre os alternativos, Oficina e Satyros, além de duas salas da rede Sesc.
A reportagem procurou conferir os principais requisitos que garantem a segurança de um espaço em caso de incêndio: a manutenção das instalações elétricas, os dispositivos de combate ao fogo, as saídas de emergência, entre outros.
A maior parte das visitas, feitas ao longo das três últimas semanas, teve a presença da fotógrafa e iluminadora Lenise Pinheiro, que há mais de 20 anos transita pelos teatros paulistanos, onde também trabalha.
No levantamento, quatro deles apresentaram condições precárias e oito se mostraram relativamente bem. Renaissance e Imprensa não quiseram receber a reportagem.

Situação crítica
Entre os primeiros, o Ruth Escobar foi um dos que apresentou problemas graves: fiação correndo sobre carpete, quase todos os refletores sem os cabos de aço -que são a segunda garantia de que eles não se soltem-, tomadas sem espelho de proteção. Nas coxias, havia muitas lâmpadas sem cúpula, a poucos centímetros de pedaços de cenários -o que facilitaria a propagação do fogo.
Havia ainda gambiarras -instalações elétricas improvisadas- com fita isolante em uma das três cabines técnicas. Não havia extintores ou hidrantes dentro da sala menor (Miriam Muniz) e, na maior (Dina Sfat), uma porta de emergência estava quebrada, sem a barra antipânico esquerda.
Ali, a reportagem também viu cadeiras cujos encostos, tortos, atrapalhavam a circulação pela fileira de trás -o que poderia causar quedas se preciso deixar o local com rapidez.
"O pior problema dos teatros de São Paulo é o extremo desleixo e a irresponsabilidade com instalações elétricas. Não há razão para fios ficarem expostos: têm de estar em calhas ou condutores protegidos", diz o arquiteto Cesar Bergstrom, diretor de urbanismo do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva).
Na cabine de som e luz da sala Jardel Filho, no Centro Cultural São Paulo, a instalação elétrica estava em contato com o carpete, que tinha rasgões. Na sala Paulo Emílio Salles Gomes, as tomadas dos refletores estavam precárias, assim como nos camarins. E também foram encontradas gambiarras. Tampouco havia sprinklers (sistema que solta água assim que sinais de fogo são detectados).
No teatro Oficina, os principais problemas observados foram, além das gambiarras, refletores sem cabo de aço, a falta de equipe fixa de manutenção e ausência de saídas de emergência. A porta de entrada do espaço, que tem formato de uma grande passarela, é a única rota de fuga em caso de acidente.
"Não é possível considerar seguro um lugar que só tem uma saída, mesmo que ela seja ampla. A primeira coisa que uma pessoa pensa quando vê fogo é em fugir, e não em pegar um extintor. Por isso, a partir do projeto inicial, os teatros têm de ser pensados com alternativas de saída bem claras e sinalizadas", diz Bergstrom.
Nos dois espaços dos Satyros, esse problema se repete. A sala 1 tem uma saída que dá para dentro do prédio da praça Roosevelt no qual está localizado, e a sala 2 não possui nenhuma.
Apesar de não poderem ser classificados formalmente como "teatros" por terem capacidade inferior a cem pessoas (são definidos por lei como "salas de reunião"), ainda assim os espaços dos Satyros não adotam procedimentos de segurança importantes.
As cortinas não recebem tratamento antichamas, não há sprinklers e os refletores de luz não têm cabo de segurança.
De forma geral, os administradores dessas quatro salas dizem que estão trabalhando para resolver os problemas.

Melhores condições
Nos outros teatros, a reportagem encontrou condições melhores. A maior parte deles tem dispositivos de combate a incêndio, como cortinas, carpete, revestimento das cadeiras com tratamento antichamas, estruturas de concreto e não de madeira como base da platéia e regras para o palco, como proibição de fumar nas cenas.
Apesar de considerar essas medidas importantes, Bergstrom relativiza a eficiência da aplicação de produtos antiinflamáveis. Para ele, tratam-se de lenitivos, pois funcionam por tempo curto. "Um produto antichamas impede algo de queimar por um período curto de tempo. O essencial é haver espaço entre fileiras e corredores para escape imediato."

Estamos resolvendo os problemas, dizem salas

Oficina chama técnicos quando há novas peças; Satyros toma "série de medidas´

DA REPORTAGEM LOCAL

A reportagem procurou os administradores dos teatros avaliados como precários para pedir explicações sobre os problemas observados nas visitas.
No Oficina, onde não há equipe de manutenção fixa, o ator e diretor Marcelo Drummond disse que a presença permanente de técnicos depende de verba. "Quando vamos montar um espetáculo novo, chamamos os técnicos. Mas não podemos manter uma equipe todo o tempo", diz.
Drummond criticou as leis de incentivo à cultura por não aceitarem que a manutenção dos teatros seja incluída nos pedidos. "Quando fazemos um projeto para pedir verba, se colocarmos [no cálculo dos gastos] verba para a segurança do teatro, esse item não é aceito."
A sede do grupo de José Celso Martinez Corrêa também tem fiação exposta e "gambiarras" (ligações elétricas improvisadas, com fitas isolantes e benjamins), além de sofrer ataque de roedores que vêm do mercado em frente ao teatro. "Fazemos desratização com freqüência e procuramos checar a situação dos fios toda vez que trocamos de peça."
Drummond afirma que o modo "possível" de o Oficina funcionar é este. E se defende dizendo que até hoje não houve problemas graves.
O diretor do Espaço dos Satyros, Rodolfo García Vázquez, afirma que "uma série de medidas" está em curso, "dentro dos limites" do teatro. "Refizemos a iluminação de emergência, encalhamos a fiação, mudamos as caixas expostas de lugar, fizemos treinamento de incêndio e trocamos a sinalização", diz.
Durante a visita da reportagem, um funcionário instalava sinalização de emergência. E o camarim do Satyros 1, sempre cheio de figurinos e elementos do cenário, havia sido limpo antes da chegada da Folha.
O administrador do teatro Ruth Escobar, Ascânio Furtado, argumenta que os problemas detectados estão sendo resolvidos. Segundo ele, a barra antipânico quebrada foi arrumada; parte das tomadas sem espelho, consertada; e as lâmpadas sem cúpula, cobertas.
Sobre a fiação exposta, ele minimiza o problema, afirmando que os cabos estão encapados com isolamento antiincêndio. "Toda a parte elétrica do teatro está sempre em manutenção. Estávamos colocando novos cabos de aço [nos refletores] quando a Folha veio."
Já o Centro Cultural São Paulo respondeu por e-mail às observações feitas sobre a precariedade de sua fiação.
Na mensagem, a arquiteta Ana Pimenta diz que as instalações elétricas do teatro serão trocadas ainda neste ano.
Para 2009, segundo Pimenta, está programada uma reforma geral das salas de espetáculos, durante a qual todo o urdimento de madeira deverá ser substituído.

(EDUARDO SIMõES, LUCAS NEVES e SYLVIA COLOMBO)

Laudo da perícia do Cultura deve sair nesta semana

DA REPORTAGEM LOCAL

O Instituto de Criminalística (IC) da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo promete para o início desta semana a divulgação do laudo da perícia técnica do incêndio que atingiu o Teatro Cultura Artística na madrugada do dia 17 de agosto. Segundo Henrique Honda, diretor do núcleo de engenharia do IC, duas pessoas fizeram o trabalho de campo, iniciado já no dia 17/8. Ele não soube precisar quantas pessoas estão encarregadas do relatório, que ainda está sendo elaborado.
No dia 18/8, a Polícia Civil e a Polícia Técnico-Científica informaram à Folha que não havia indícios de que o incêndio tivesse sido causado intencionalmente. Também foi descartada a hipótese de que a queda de um balão sobre o telhado tivesse provocado o desastre. Os dois órgãos informaram que o fogo começou dentro da sala principal (Esther Mesquita, com 1.156 lugares) e que o telhado caiu depois. Ainda resta a hipótese de curto-circuito. Honda diz que nem ele nem os relatores podem adiantar conclusões sobre o incêndio.

Seguro
O seguro do Cultura Artística não cobre os custos de reconstrução do prédio. Estimada em cerca de R$ 5 milhões, a apólice do prédio havia sido reavaliada no ano passado.
Gérald Perret, superintendente da Sociedade Cultura Artística, mantenedora do teatro, não sabe avaliar quanto custará a reconstrução.
O Cultura Artística foi inaugurado em 1950, com Camargo Guarnieri (1907-1993) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959) regendo suas composições. Seu palco recebeu outros grandes nomes nacionais, como o ator Paulo Autran, cuja última peça, "O Avarento", foi montada ali. Estrelas internacionais, como a cantora Josephine Baker e o mímico Marcel Marceau, também estiveram lá.

Realizadores criticam acúmulo de peças em salas

Mudança constante nos equipamentos compromete a segurança, dizem produtores e diretores ouvidos pela Folha

Teatros com administração pública são os mais temidos pelo produtor Eduardo Barata; Gabriel Vilella ressalta "zelo" da rede Sesc


DA REPORTAGEM LOCAL

Diretores e produtores ouvidos pela reportagem da Folha apontam não só os problemas mas também os pontos positivos dos teatros de São Paulo. Os que têm administração pública são os mais temidos pelo produtor carioca Eduardo Barata, que diz ter receio de levar uma peça para o Centro Cultural São Paulo, por exemplo.
"Tanto no Rio quanto em São Paulo, a política de preservação dos teatros públicos é capenga, não sinto segurança. Há exceções, como o Sérgio Cardoso, em que existe uma preocupação individual dos funcionários, com pouquíssimos recursos. Como um Exército de Brancaleone, vão driblando os problemas com amor pelo espaço", argumenta.
Barata diz que, de modo geral, sente-se mais seguro em teatros particulares, como o próprio Cultura Artística, onde estrearia no dia 3/10 o espetáculo "Brincando em Cima Daquilo". Para o produtor, o incêndio no Cultura Artística não parece ter sido questão de abandono, mas de acidente.
Já o diretor Gabriel Vilella diz que não vê muita diferença entre os públicos e os privados. Para ele, da década de 90 para cá, os teatros paulistas, de modo geral, passaram a obedecer com mais rigor aos critérios de segurança. Vilella diz ainda que os particulares e os da rede Sesc têm "zelo de Primeiro Mundo" e o Municipal tem "cuidado extraordinário".
O diretor Felipe Hirsch é outro a elogiar as salas da rede Sesc -além de ser entusiasta do teatro popular do Sesi. "Têm padrão internacional."
Uma das primeiras coisas que produtores como Eduardo Barata procuram saber num teatro é se há muitos espetáculos acontecendo ao mesmo tempo, por conta da necessidade de mexer na luz, montar e desmontar cenários etc.
Para a produtora Fernanda Signorini, que está com a peça "O Eclipse" em cartaz em São Paulo, o amontoamento de espetáculos num só espaço é grave, mas é algo que vem mudando. "Para sobreviver, as salas acumulam várias peças. Mas deve haver bom senso por parte de teatros e produtores."

Técnico "gambiarra"
O diretor Eduardo Tolentino, do Grupo Tapa, também vê problemas quando um mesmo espaço abriga vários espetáculos simultaneamente.
"Uma coisa é ter uma peça [em cartaz] de terça a domingo. Nesse caso, você vai ter profissionais mais adequados, como camareira, operador de luz. Quando você entra no terreno do improviso, com uma peça a cada dia, o técnico em si já vira uma "gambiarra". Em dez minutos, tem de quebrar um galho. Você resolve um problema imediato e não pensa a longo prazo", diz Tolentino, para quem técnicos do teatro brasileiro pioraram muito.
"é muito mais difícil hoje achar mão-de-obra especializada. O cara que leva a escada, de repente, vira operador de luz."

Frase

"Quando se entra no terreno do improviso, com uma peça a cada dia, o técnico em si já vira uma "gambiarra" [...] Você resolve um problema imediato e não pensa a longo prazo [...] é difícil achar mão-de-obra especializada. O cara que leva a escada, de repente, vira operador de luz"
EDUARDO TOLENTINO
diretor de teatro

DEPOIMENTO
O que tenho visto no Brasil é de dar medo

GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando eu perambulava pelo La MaMa, nos anos 80, dando workshops sobre o teatro da hesitação e sobre um novo fluxo de pensamento, me deparei com várias intervenções do NYFD (New York Fire Department). Estávamos no prédio de ensaios, um quarteirão atrás do teatro, no East Village. Na frente desse edifício, há uma estação de bombeiros. Tudo que eles tinham que fazer era entrar, tirar o cigarro de nossas bocas e dizer: "Aqui não se pode fumar!". Anos depois, nos palcos europeus, a multa falou mais alto. A cada cigarro aceso, marcos alemães ou schillings austríacos ou libras inglesas eram descontadas do meu salário, mas eu só ficava sabendo ao receber o cheque na véspera da estréia. Fora um incidente com Fernanda Montenegro (aliás, dois), no complexo Kampnagel Fabrik em Hamburgo, em 1992, não lembro de ter sentido medo ou vergonha de encenar um espetáculo. Com a minha ex-sogra foi o seguinte: "Flash and Crash Days" estava em cartaz em uma das várias salas da ex-fábrica. Não havia banheiro perto. Disse ao diretor artístico: "Essa é a maior atriz de todos os tempos e não abro a cortina se não houver uma forma de banheiro portátil". Depois de muito escândalo, provindenciou-se algo com um balde. A própria Fernandona insistiu e abrimos o pano. Palco do lado. No mesmo complexo, Sir Fernandona foi assistir ao ensaio da minha desastrosa "Saints and Clowns". O banco em que se sentou "colapsou" com ela. Só notamos depois do ensaio. E a levamos ao hospital. Não são exatamente eventos que colocam em risco de vida um teatro. São problemas sanitários ou de gerência. O que tenho visto e vivido no Brasil nos últimos 25 anos é de dar medo ou querer fugir: desde o meu ex-assistente de iluminação quase morrer por bater com a cabeça num pedaço de ferro não-sinalizado no urdimento, até ratos enormes que corroem os multicabos de luz ou de som. Não há aterramento devido entre ambos. Os teatros do Rio (João Caetano e Villa Lobos, por exemplo) são os piores do mundo. Nós brincamos, irresponsavelmente, dizendo que eles fazem "plantação" de brie e camembert nas poltronas, de tanto mofo. O que tenho visto de rack de luz esquentando, de excesso de refletor por canal, de falta de grade na frente da lente, varas grudadas rentes demais, contra-pesadas com cordas quase no ponto de arrebentarem! Os bêbados de costume que nos dizem adeus e fecham o teatro... Não sei se por milagre ou desgraça o Cultura Artística e outros teatros não foram pra fogueira das meias verdades antes. Mas se querem uma resposta, perguntem pro Paulão, chefe de palco do Sesc Paulo Autran. é a ele que eu me rendo. Ele sabe que nenhuma medida é pouca quando se trata de uma mega-estrutura que pode desaparecer num abrir e fechar de olhos -ou num subir e descer de pano.

GERALD THOMAS é autor e diretor

FOCO
Na prática, Sidão aprendeu como encarar emergências

DA REPORTAGEM LOCAL

"Chame o Sidão!" é assim que Marcelo Drummond reage quando detecta problemas elétricos no Oficina.
E ele não é o único. Sidnei Sergio Rosa, 50 anos de idade e 32 de teatro, é um personagem conhecido no circuito de teatros do centro e do bairro do Bexiga.
Sem formação específica, Sidão conta que aprendeu a instalar fiações, preparar palcos para diferentes tipos de montagem e a reparar encrencas na prática.
"Tem muita gente que estuda, que se diz técnico, mas que depois não sabe como agir diante de um problema sério", diz esse homem pequeno, magro e falante, sempre de lanterninha em punho. "Todos os teatros de São Paulo têm problemas. E isso só se resolverá quando houver fiscalização e formação de profissionais." (SC)

Mobilização se acirra e revela contradições internas e diferenças de visão sobre mecanismos de apoio

(O Estado de S. Paulo - SP, Beth Néspoli, 12/04/2008)

Se o movimento da classe teatral ganhou os holofotes nas últimas semanas, ele não começou ontem. Representante da APTR, Andréa Alves enfatiza que a discussão teve início há cerca de cinco anos, nas câmaras setoriais. "Em outubro de 2005 conseguimos, numa audiência pública, incluir o teatro na Comissão de Educação e Cultura. Abrimos essa porta", diz. O anteprojeto de lei do Redemoinho também é de 2005 e já rendeu reportagem no Estado ao ser apresentado no 2º encontro da rede, realizado em Belo Horizonte, no Grupo Galpão.

Por que a disputa parece mais acirrada agora? Em parte pelas diferenças de propostas nos anteprojetos (leia abaixo), em parte pela própria mobilização da classe teatral. No dia 27 de março, dia do teatro, manifestações foram feitas em 11 cidades de diferentes Estados, planejadas pelo movimento Redemoinho em parceria com a Cooperativa Paulista de Teatro. Na próxima quinta-feira, o conselho do Redemoinho, formado por diretores de São Paulo, Porto Alegre, Natal, Belo Horizonte e Salvador, tem encontro marcado com o secretário executivo do MinC, Juca Ferreira, para discutir o anteprojeto de Lei de Fomento. Em maio haverá outra reunião na comissão do Senado para debater a Lei do Teatro. "Com certeza o movimento está mais maduro, propõe projetos, coloca o teatro em pauta e isso é um avanço", diz Andréa.

Mas não unificado. São contradições que se repetem ao longo da História. Se há debate, livre, democrático, as diferenças aparecem. Algumas radicais como se pode constatar pela leitura dos artigos da página ao lado. Por outro lado, se há maturidade, o debate resulta frutífero. "No Brasil, é erro comum a confusão entre distribuição de verba e política cultural. Sempre se discute o primeiro. Enquanto não houver esse entendimento, a discussão não avança", já argumentava Eduardo Tolentino, do Grupo Tapa, em reportagem do Caderno 2 de 11 de março de 2005, sobre a concentração de renda na captação feita por meio da Lei Rouanet. As reportagens também se repetem agora.

é ponto importante - a lei de incentivo é apenas um mecanismo de financiamento. Que serve, bem ou mal, a uma parcela da produção artística. Para além dos grupos organizados e dos artistas cuja simples presença no Senado repercute na mídia, há uma maioria silenciosa lutando para produzir e aprimorar a arte teatral em todo o País. Para levar O Avental ao festival de Curitiba, o grupo baiano Teatro de Bastidores fez uma via-crúcis por órgãos públicos e, ao final, contou sobretudo com seu público. "Teve até um espectador que pagou uma das passagens", diz a produtora Graça Regina Souto Silva. Viajaram sem cenário, que recompraram em Curitiba (R$ 270) e lá deixaram. "Nosso projeto foi aprovado na Rouanet, mas não captou." Um caso, entre muitos. E era um espetáculo de autor premiado, Marcos Barbosa.

"Só vai mudar quando as escolas levarem seus alunos ao teatro e ao cinema", diz Andréa. "Ainda há executivos da área de Marketing que não têm noção do que é teatro." Com qual freqüência empresários, médicos, engenheiros ou políticos vão ao teatro? Talvez uma pesquisa séria de público revelasse que sua ausência nas salas não é mera questão de poder aquisitivo. Uma cena teatral forte e diversa pede mapeamento, políticas públicas planejadas para desenvolver a atividade em toda a sua amplitude, inclusive na formação, no sentido mais profundo, de público.

Se há consenso nesse ponto, não há sobre quais mecanismos dariam conta dessa amplitude. Ney Piacentini, presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, enfatiza: "é preciso conhecer para criticar. A lei federal que propomos, por exemplo, não é só para manutenção de grupos, mas para produção de espetáculos e circulação. O que considero importante pôr em discussão é que fundo público tem de ter destinação pública. Lei de incentivo, da forma como está, é loucura brasileira, não existe em país nenhum."

"O atual debate é bom porque pode servir para afiar o diagnóstico, única chance de se chegar a boas soluções. Reações acirradas costumam ser provocadas por diagnósticos precários", diz o consultor cultural João Leiva Filho. "Um dos problemas é que o funcionamento da lei piorou", diz o produtor Claudio Fontana. "Antes a análise de um projeto levava no máximo dois meses, agora leva seis. Teoricamente, a criação de uma secretaria não é uma boa idéia, mas se na prática melhorar o atendimento eu aprovo", argumenta.

"Um dos problemas da Lei Rouanet é ser única", diz o presidente da Funarte Celso Frateschi. "Cerca de 90% do que é aprovado não capta, é trabalho perdido", diz. Claudio Fontana sugere que a dedução possa ser feita também sobre o lucro presumido - e não só sobre lucro real - o que facilitaria a captação e o investimento, nas pequenas empresas. "O Ministério da Cultura tem consciência de que mudanças vêm sendo solicitadas há cinco anos. Mas não se constrói política cultural com uma cartada. é preciso maturação. Acho que chegamos a esse ponto", diz Celso Frateschi.

Recentes críticas de Frateschi à Lei Rouanet, segundo ele responsável pelo encurtamento das temporadas, provocaram uma reação em cadeia. "Estou convencido de que ainda vou convencer os produtores teatrais de que estou a favor deles", diz ele. "Do jeito que está a Lei Rouanet não lhes serve."

Produtores apontam a meia-entrada obrigatória para estudantes e idosos como uma das causas dos altos custos de produção. Onera e não atinge quem deveria. "Não é por ser estudante ou idoso que há carência financeira", diz Beatriz Segall. "Sem contar que qualquer curso e até pizzaria dá carteira de estudante." Fontana aponta ainda os altos aluguéis das salas de espetáculo.

Celso Frateschi considera forte entrave no funcionamento da Rouanet o perfil dos captadores e a concentração de renda (leia quadro nesta página). "Não vou falar pelos outros, mas pela própria Funarte. Os prêmios Miriam Muniz, de teatro, e Klauss Vianna, de dança, foram realizados com captação pela Lei Rouanet. Como um produtor independente vai concorrer com Estados e com prefeituras?" Uma lei geral para as artes vem sendo gestada no Ministério da Cultura. "No máximo em dois meses será posta em discussão com a classe", diz Frateschi. Ele acredita que embora não seja uma lei específica para o teatro, vá servir entre outras coisas para desonerar a Lei Rouanet. "E terá especificidades que respeitam as diferenças de necessidades entre as áreas."

Mais uma etapa dessa discussão certamente se dará no dia 5, quando Frateschi participa de um debate, aberto ao público, no Centro Cultural São Paulo, para discutir Políticas Públicas para o Teatro.