O Governo do Estado de Santa Catarina, através da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte,
Fundação Catarinense de Cultura e Museu Histórico de Santa Catarina
convida para o coquetel de abertura da exposição
PRESENçAS: o ato de pintar
Curadoria de Rubens Oestrom
Artistas: Anelise Junqueira Bertoncini
Dolma Magnani de Oliveira
Elvira dos Santos Sponholz
Jussara Isabel Romero
Katia áurea da Costa
Ligia Czesnat
Mariza do Amaral
Marivone Dias
Sandra Cavallazzi
Verceles Amâncio
Dia 05 de março de 2009
19 horas
Museu Histórico de Santa Catarina
Palácio Cruz e Sousa
Visitação: 06 de março a 05 de abril
Terça a Sexta das 10h às 18h
Sábado e Domingo das 10h às 16h
Presenças: o ato de pintar
Neste grupo de pesquisa artística, prevalecem elementos do neo-expressionismo dos anos 80. O esforço concentrou-se mais na transformação do suporte, técnicas com decalque plástico, sobreposição de gestos. A pintura preta e branca talvez tenha se originado nos exercícios de desenho a carvão.
A pintura de camadas nos leva a um processo meditativo, onde os tons que se fundem nos fazem refletir sobre o enigma da pintura orgânica, seja ela figurativa ou não.
Grande formato ou pequeno formato, qual é a diferença? Na tela grande você se envolve de corpo inteiro, no formato menor, você usa praticamente a mão. Isso nos leva a pensar o quanto pode ser complexo o contexto da pintura.
Dividir conhecimento requer muita habilidade. Não só o estabelecido nos abre caminho à obra de arte, é necessário transcender a arte consumada. Esta pintura não deseja mais discutir sua vanguarda, pois seu ímpeto está no auto-conhecimento, no espaço-tempo, na subjetividade e no prazer de quem está o pincel na mão.
Rubens Oestroem
PRESENçAS
* Ligia Czesnat
Linhas e cores se misturam numa profusão de configurações e nesta diversidade se evidência uma unidade insustentável, entre caligrafias, diagramas, cujo esforço, parece assegurar um processo coletivo de superação, para não se tornarem mais um código facilmente e decifrável.
O artista é esse personagem estranho que coloca para si a tarefa de atravessar o abismo, para então no caos, instaurar um nascimento, pois o ato de pintar é fazer nascerem mundos e seu efeito é fazer surgir presenças.
Este é um grupo de artistas, que vem trabalhando incessantemente em seus projetos artísticos pessoais, e que juntos se articulam na diversidade, anos seguidos. Cada um possui sua senha, ou seja, um fluxo do sensível, que informa as diferentes maneiras de ver a forma, o fundo, o espaço, a cor e a luz, na qual se introduzem múltiplas modulações. Assim, buscando encontrar uma convergência para forças tão dispares, o jogo que surge faz perceber que sua vantagem está justamente no constante desfazer-se, no desequilíbrio, para então, refazer-se, permitindo captar-se o regime da cor como o ponto pictural comum.
Com advento do uso exclusivo da cor como recurso de preenchimento do espaço, inaugura-se a emergência do olhar da pintura exclusivamente sobre a superfície da tela. Essa decisão implicou no deslumbramento e no desvio da cor, que está serviço agora da abertura de um espaço de outra natureza, isto é, o espaço em que a cor modula a luz.
São faturas que procuram preencher o vazio da tela branca, desenhos rabiscam fantasmas, paisagens, retratos, e dividem a tarefa comum de transformar em forma a tela informe, recolocando o eterno jogo de solucionar questões irresolutas da arte. As habilidades destas artistas não se resumem apenas na obra como cintilações do sonho, mais como também remetem pensar nos sentidos e nas inquietações de cada uma e das particularidades de técnicas que se evidenciam no manuseio ora da cor, ora da forma, presentes muita vezes, nas repetidas e delicadas veladuras de Marivone Dias; do eterno jogo sutil entre cores pálidas e luz de Jussara Romero; na lucidez plástica no uso e na depuração das cores saturadas e contrastantes de Sandra Cavallazzi; no esforço continuado de fazer da paisagem arborescente uma experiência de cores e de novos materiais de Dólma de Oliveira; o esforço de desfazer a semelhança para fazer surgir a imagem figural de Kátia Costa; da energia de iniciante atenta e caprichosa de Annaluise Junqueira Bertoncini; Euvira Santos Sponholz com o jogo táctil de cores matéricas; Mariza do Amaral revisita um gênero pictórico esquecido o auto-retrato, buscando a estranheza no processo de identificação; Vercelles Amancio cujo processo criativo trouxe tensões inovadoras ao grupo; e eu Ligia Czesnat a pretexto de fazer dos retratos presenças e não representações, acrescento a preocupação de trabalhar em branco e preto, no qual procuro pensar as questões relativas à grisalha.
* Professora Aposentada do Departamento de História da Universidade Federal de santa Catarina.
A Fundação Catarinense de Cultura (FCC) abre nesta segunda-feira, dia 12, às 19 horas, no Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina (MIS-SC), em Florianópolis, a exposição "O Mundo Mágico do Circo". Formada por fotografias de Márcio Henrique Martins, desenhos de Hassis e vídeos de Ronaldo dos Anjos, a mostra escolheu o circo para abordar o tema "A imagem e a relação com a sociedade".
As fotografias de Martins foram há poucas semanas, em duas cidades catarinenses que estava sendo visitadas por circos de pequeno porte: Gaspar, onde estava o Circo Di Tari, e Guabiruba , no Circo Irmãos D" Jully. "São circos realmente pequenos, tocados apenas pela família. A mulher vende o bilhete, o marido recebe, a filha vende o algodão-doce enquanto o irmão troca de roupa para se apresentar, pouco antes do pai fazer o mesmo", conta o fotógrafo.
Márcio viajou acompanhado do diretor de cinema Ronaldo do Anjos, que filmava enquanto o colega fotografava. O resultado foi a produção de um vídeo, que poderá ser visto na exposição, em uma televisão instalada na entrada do museu, com projeção contínua. Também será exibido outro vídeo de Ronaldo, "Viva o Circo", filmado 1989, e que faz um panorama dos circos mambembes que percorriam Santa Catarina na época. Premiado, "Viva o Circo" venceu as categorias de melhor documentário e melhor direção no Festival Brasileiro de Vídeo Amador de Gravatal.
Para completar a mostra, serão exibidos desenhos do artista catarinense Hassis (1926-2001). Eles foram retirados do álbum "Respeitável Público...", de 1982, cedido pela Fundação Hassis, e igualmente têm como temática o circo.
A exposição "O Mundo Mágico do Circo" é participante da 6ª Semana Nacional de Museus, que será realizada em todo o Brasil de 12 a 18 de maio. Com o tema "Museus como Agentes de Mudança Social e Desenvolvimento", a Semana busca promover uma interação dos museus com a comunidade local, por meio do papel que exerce a instituição museológica na conscientização do cidadão sobre sua história, seu passado, seus direitos e valores e suas diretrizes para o futuro.
O QUê: Exposição "O Mundo Mágico do Circo"
QUANDO: abertura 12 de maio (segunda-feira), às 19 horas. Visitação até 26 de maio, diariamente, das 13 às 22 horas. Visitas monitoradas podem ser agendadas pelo telefone (48) 3953-2327.
ONDE: Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina (MIS/SC), Centro Integrado de Cultura (CIC), Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica, Florianópolis.
QUANTO: gratuito.
Com o objetivo de reconhecer a atuação de catarinenses nos movimentos de resistência ao golpe militar, a Assembléia Legislativa realizou na quinta-feira (29) uma sessão solene em alusão aos 40 anos dos Movimentos Sociais de 1968. A homenagem, feita em parceria com a Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e a ONG Cidade Futura, contou com a participação do jornalista e escritor Zuenir Ventura, que lançou o livro "1968 - O que fizemos de nós". As galerias do Plenário Osni Régis foram ocupadas por jornalistas, escritores, líderes estudantis e políticos que vivenciaram "os anos de chumbo", bem como de jovens alunos matriculados em escolas da capital.
Durante o evento nove personalidades receberam uma placa comemorativa: Sérgio da Costa Ramos (que discursou por todos os homenageados - veja abaixo o discurso na íntegra), Salim Miguel, Marcílio Krüeger, Rogério Queiroz, Derley de Lucca, ex-senador Nelson Wedekin, Romário José Borelli (que cantou uma música de sua autoria - veja abaixo a letra) e o ex-deputado estadual Roberto Motta (in memoriam), além do escritor mineiro Zuenir Ventura.
Para o deputado Edison Andrino, que propôs a homenagem, quando se fala em 1968 vem à memória acontecimentos que estão no nosso inconsciente da sociedade que ainda hoje é motivo de estudos e pesquisas. Muitos fatos que aconteceram naquele período justificam mudanças nos costumes que influenciaram gerações. "Esta época foi balizada por acontecimentos que revolucionaram a ciência, como a primeira cirurgia cardíaca. Foi um tempo de transformações para a vida das pessoas, de modernização e liberação da sociedade", declarou.
A constante agitação política e social que o mundo passava também foi mencionada pelo parlamentar. "O país inicia as manifestações populares e as lutas pelo fim da ditadura militar, mas junto com elas também iniciam os conhecidos anos de chumbo. Que balanço se pode fazer de um ano tão carregado de sonhos?", questionou Andrino.
Anita Pires falou em nome da Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Ela relatou que esta homenagem é cheia de emoção porque reuniu pessoas que caminharam juntas na mesma época, com os mesmos sonhos, em uma época de muito sofrimento.
A presidente da FCC aproveitou a oportunidade para falar diretamente aos estudantes que assistiram à sessão solene. Conforme Anita, além de ser uma homenagem a todos os companheiros, também são eles que devem conhecer esta história e exercer a cidadania. "Quando falam sobre 1968 tenho a lembrança de que tínhamos uma revolta existencial, que fez romper com o machismo, autoritarismo e principalmente o rompimento com a guerra, lutando pela construção de uma sociedade solidária e fraterna. A nossa palavra de ordem era faça amor e não faça a guerra e cantávamos a canção quem sabe faz a hora e não espera acontecer", relatou.
Em nome dos homenageados, o jornalista Sérgio da Costa Ramos falou sobre as censuras sofridas pelos intelectuais da época. "A palavra, a prece, a música, tudo passou a ser negado. O bicho da ditadura não era folclórico ou um bicho do bem. O bicho da ditadura era o carcará que pega, mata e come", frisou.
Presidente da Cidade Futura, Paulo Teixeira mencionou a dificuldade que tinham de fazer uma pequena reunião e manifestar o que seria os desejos naquele período. "Acreditávamos que naquela reunião poderíamos mudar não só a nossa a vida, mas a sociedade brasileira, as leis desse país, a condição humana das pessoas que necessitavam das outras para ter uma vida saudável. Tínhamos orgulho de ser militantes das causas que acreditávamos. Foi um ano de muitos sonhos", concluiu.
1968 - O que fizemos de nós
Zuenir Ventura lançou seu livro "1968 - O que fizemos de nós" durante a sessão solene. Ele fez uma pequena explanação sobre a sua obra, na qual declarou que se sentia cobrado a relatar o que aconteceu naquele ano e a obra acabou sendo um segundo balanço sobre o período. "Não quero ser saudosista, é um olhar generoso, mas não saudoso. O legado de 1968 é uma herança positiva muito importante deixada por quem viveu aquele ano, a quebra dos valores e as mazelas do país não podem ser remetidas a 1968", ressaltou.
O escritor também traçou um paralelo entre a geração de 1968 e a geração de 2008. "A geração de 1968 é muito mais aguerrida e solidária, enquanto a geração de hoje é mais tímida e voltada para si", refletiu.
Fizeram acontecer
(Sérgio da Costa Ramos)
Neste maio de 2008, de céu azul e plenilúnios, recebi de um repórter do etéreo, desses que fazem questão de ouvir "o outro lado", a notícia de que o Papa Gregório XIII, o do calendário, não se conforma com aquele ano incompleto, o de 1968.
Debruça-se, até hoje, aflito, sobre a tragédia de um de seus filhos, o Ano da Graça de 1968. Aquele ano que não teria terminado, segundo a antológica reportagem de um arguto filósofo do cotidiano brasileiro, Zuenir Ventura.
O que teria acontecido com o ano de 1968 no Brasil?
Para resumir o sinistro hiato do calendário, recuperaram-se as imagens da Agência Nacional, capturando a "fala do trono" das 19 horas do dia 13 de dezembro de 1968. O ano, que começara com a esperança de uma primavera institucional, sob os acordes de "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, tingia-se de chumbo, com as duas interjeições agudas do preâmbulo de "O Guarani", aquele prefixo da "Voz do Brasil", sempre confundido com as más notícias.
Na tela, em preto e branco, delinearam-se duas figuras, o locutor oficial Alberto Cúri e o Ministro da Justiça, Luiz Antônio da Gama e Silva.
Ali, 99 anos depois da estréia de O Guarani no Scala de Milão, um libreto liberticida e uma ópera obscura cavaram frêmitos de repulsa no peito do maestro Carlos Gomes, desencarnado, mas não insensível. Os prelúdios do Guarani invadiram a atmosfera da Tropicália, esquartejando a frustrada brandura do regime e recrudescendo a ditadura.
O ano foi brutalmente interrompido, os verbos deixaram de ser flexionados no presente e no futuro. Um Big-Bang abriu um buraco negro na Ordem Jurídica, um golpe no golpe. Um Ato Institucional se sobrepôs à Constituição e, na prática, revogou-a em todos os capítulos civilizatórios, de garantias e direitos individuais.
à medida que expelia o seu veneno, lendo o édito "legalicida", o ministro Gaminha tremia sob os óculos um dia partilhados com Joseph Goebbels e Heinrich Himmler, capos do cabo Hitler. Fez o país refluir até a Idade Média e sob a noite de dezembro, já não se esperava o Messias, mas o Príncipe das Trevas.
De repente, antes das 20 horas daquele dia 13, todos os brasileiros vestiram as roupas do bancário K, de "O Processo", de Franz Kafka. Todos se tornaram suspeitos e processados, tendo que provar a própria inocência. Processados sem ter direito a conhecer os autos do processo. Quanto mais procuravam saber sobre os seus processos, mais os brasileiros se comprometiam.
O AI-5 bastava-se pelo parágrafo em que excluía de "quaisquer apreciações judiciais" os atos fundados "neste édito". Perseguidos por tribunais misteriosos, por uma culpa incerta e não formada, os brasileiros encarnados no bancário K. agravavam a sua pena sempre que tentavam se defender.
Para quê defesa? Para quê o contraditório? E para quê, se todos eram mesmo culpados? Se a sentença de morte já estava escrita?
Todos os aqui hoje homenageados foram réus de um governo pária, que cuspiu em todas as fontes e frontes do Direito. Era proibido permitir - o que quer que fosse, nesta República de um só artigo e de uma única voz: a do general-rei.
Pois era preciso calar jovens estudantes, jornalistas, professores, profissionais liberais, funcionários públicos, era preciso, enfim, calar o povo brasileiro. Calar as guerreiras de Atenas contra os generais de Esparta - nossas Anitas, herdeiras da Garibaldi, como a Anita Pires e a Derley Catarina de Lucca.
Derley Catarina, líder estudantil, Derley militante da AP, Derley presa e torturada, Derley ressurgida, como sinônimo de ética, de bravura, de resistência, de reserva moral.
Era proibido pensar e cultivar uma utopia - como era norma na vida do patriota líbano-biguaçuense Salim Miguel, que ficou literalmente "Nur na Escuridão", a caminho de se tornar, hoje. um dos mais importantes intelectuais e escritores do país. A violência da ditadura contra a palavra está resumida num episódio de sua vida. O incêndio de sua livraria, livros ardendo numa fogueira na Praça XV, numa cena brechtiana.
Era proibido o livre-pensar e o jovem idealismo de Rogério Queiroz, presidente da União Catarinense dos Estudantes, e era condenável a valente militância da juventude católica de Marcílio Ramos Krieger, alma da AP em Santa Catarina, que pensava numa Teologia social, capaz de imaginar um melhor destino para o homem enquanto este ainda habitasse a Terra.
Tudo isso era proibido. Como era proibida a destemida atuação de um jovem advogado de sindicatos e, depois, de um espadachim imbatível na defesa dos direitos humanos e dos presos políticos, como o hábil esgrimista Nelson Wedekin.
A palavra, a prece, a música. Tudo passou a ser renegado. A música de Romário José Borelli, um homem de teatro, um criador, um bandonéon que Piazzola acolheria, emocionado, enquanto a Nova Ordem tentava transformar os gemidos do seu instrumento no miado de um gato escaldado, eviscerado e perseguido.
O bicho da Ditadura não era a folclórica e doce bernunça, bicho do Bem, que engolia sem matar e fumava sem tragar. O bicho da Ditadura era o Carcará. Que, como dizia o refrão: Pega, mata e come!
O Carcará não se contentava em comer e calar consciências. Censurar redações, canções e obras de arte. Precisava matar sua fome "do absurdo" e levar Roberto Motta - jovem a quem a tortura psicológica não deixou de cobrar o seu preço kafkiano.
E, no entanto, meu caro Zuenir Ventura, "mais que nunca era preciso cantar e alegrar a cidade," como aliás, cantava a musa Nara Leão, interpretando a clássica e premonitória "Marcha da Quarta-Feira de Cinzas", protesto de Carlinhos Lira e do perseguido poetinha Vinicius de Moraes.
- Acabou nosso Carnaval/ Ninguém ouve cantar canções/ Ninguém passa mais brincando feliz/ E nos corações,/ Saudades e cinzas foi o que restou...
Para consolar o Papa Gregório XIII, porém, poderíamos dizer, hoje, que em nenhum outro ano floresceram tanto as artes, a literatura e a música. A "fechadura" estimulou os vapores artísticos a saírem das panelas de pressão e, transpassados de dor, os corações se puseram a cantar: o tropicalismo, que nascera suave e polimorfo com "Baby", de Caetano Veloso e, "Geléia Geral", de Gilberto Gil, VESTIU-SE para a guerra com "Quem te viu, Quem te vê", "Apesar de Você" e "Roda Viva", de Chico Buarque, o explosivo "Disparada" e aquele que é o hino de todos os protestos, "A Caminhada", ou "Para Não Dizer que Não falei de Flores", de Geraldo Vandré. Entre os sucessos da época, "Travessia", de Milton Nascimento, "Ponteio", de Edu Lobo, "Alvorada", de Cartola, "Andança", de Danilo Caymmi, e o belo e intimista "Sabiá", de Chico e Tom, uma "Canção do Exílio" avant-la-letre, como se os dois já estivessem prevendo a diáspora dos brasileiros, e já chorando pelo próprio desterro: "Vou voltar4/ Sei que ainda vou voltar4/ Para o meu lugar....é lá que eu hei de ouvir cantar uma sabiá..."
E, "Apesar de Você ", Gama e Silva", inspirador do AI-5, e apesar da Ditadura, prosperaram as artes, os espetáculos, a literatura, o teatro, com uma luminosa resistência cultural, estimulada pelos gritos pré-AI-5, como "Liberdade, Liberdade", "Arena conta Zumbi", "O Rei da Vela" e a verdadeira revolução artístico-lítero-musical que se seguiu, num ano que marcaria o relançamento da criatividade "antropofágica" de Oswald de Andrade, num universo reprimido, mas indomável.
O que nos consola, e ao papa do Calendário, é que 1968 finalmente terminou. E terminou bem.
Tem por saldo um período de iluminismo da inteligência e de prevalência do humanismo sobre o obscurantismo.
Sabíamos que não bastava esperar. Era preciso fazer a hora.
Os desafios de hoje são outros. Os alimentos tratados como ações nas bolsas de mercadorias e futuros, o petróleo borbulhando preços especulativos, a Amazônia cobiçada pelos que já destruíram o Mundo duas vezes. A Internet será mesmo a sucedânea de um "Grande Irmão" democratizado? O Google é o sábio supremo? E a Ecologia, deve ser preventiva ou teleológica?
Os jovens, meu caro homenageado Zuenir Ventura, é que saberão nos responder.
Esperemos que eles não... esperem. Que saibam fazer a hora para antecipar o acontecer.
Não está aí, Zuenir, mais um motivo para um terceiro livro?
XXXXXXXXXX
1968
(Romário José Borelli)
Naquele tempo as palavras tinham asas
E escapando por janelas e frestas das casas
Iam voando, murmurando, sobre os vales
Sobre os rios, sobre os campos e florestas
Naquele tempo as palavras tinham cores
E cobriam de repente as cidades com flores
Iam pintando, murmurando, sobre os cenhos
Sobre as bocas, afastando as tempestades
Naquele tempo as palavras tinham fogo
E acendiam nos lares a ternura em todos
Iam queimando, murmurando, sobre as camas
Nos cabelos, destinos da loucura
Naquele tempo as palavras davam vivas
E bebiam nas taças madrugadas festivas
Iam cantando, murmurando, nas tavernas
Nos poemas, nas estrofes das baladas.
Naquele tempo as palavras tinham ninhos
E investiam disparadas com lanças contra moinhos
Ian lutando, murmurando, cavalgando,
Tresloucadas, mensageiras de esperanças.
Mas de repente as palavras sem fronteiras
Acordaram entre muros, assustadas, prisioneiras...
Vieram juízes com mordaças,
Com sentenças no papel
Homens com tochas e lenha
Ah, quantos dias de fel!
Arrastando as correntes, murmuradas com segredo
As palavras tinham senhas, ah quantas noites de medo!
Quanta agonia, para abrir de novo as asas
Para replantar as flores e reconstruir Babel.
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Devido ao sucesso e a grande procura , estão abertas as inscrições para segunda turma do curso à distância de gestão de museus, que será realizado entre 06 de abril e 8 de agosto. Desta vez serão oferecidas 30 bolsas com 30% de desconto para os membros do ICOM-BR que estiverem com a anuidade em dia. |
O escritor Zuenir Ventura (foto), o músico e escritor Gabriel, O Pensador, o médico e atual secretário do Verde da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Jorge, são alguns dos convidados dos Encontros de Maio 2008, que serão realizados nos dias 26, 27 e 28 de maio no Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis. O evento, gratuito, é promovido pelo instituto de pesquisa, editora e organização não-governamental Cidade Futura em parceria com a Fundação Catarinense de Cultura (FCC), e terá uma extensa programação cultural, literária e filosófica que contempla lançamento de livros e palestras.
Também será lançada a campanha Biblioteca Bom de Ler, que resultará na montagem de três acervos com cerca de 200 títulos da literatura brasileira ou traduzida que vão constituir a biblioteca itinerante da Estação Bom de Ler, a biblioteca organizada junto à Fundação Catarinense de Cultura e uma terceira biblioteca, montada no escritório-sede do Instituto Cultural Bom de Ler. Os interessados em participar devem trazer um dos títulos sugeridos pelo projeto Bom de Ler, e em troca ganharão um dos livros de Gabriel, O Pensador - "Diário Noturno" ou "Um Garoto chamado Rorbeto".
"Será uma ótima oportunidade para debater assuntos diversificados como a luta contra a ditadura no Brasil, a cultura brasileira na perspectiva do teatro e até o equilíbrio ambiental", lembra a presidente da FCC, Anita Pires. "Recriamos o Encontros de Maio, que foi realizado pela primeira vez a dez anos, a partir de um "antes" e um "depois" de 1968. Nestes Encontros de juventude e de gerações, concentramos esforços para afirmar a vida e nossa fé nesta criação de liberdades e infinitas possibilidades, que marcam e marcaram esta passagem de século e de milênio", afirma o idealizador do evento e coordenador da Cidade Futura, José Paulo Teixeira,
Mais informações: www.cidadefutura.com.br - telefones (48) 3233 5282 / 9911-1782
PROGRAMAçãO - Encontros de Maio 2008
Dia 26 de maio 2008 - segunda-feira
16:00 horas - Vida VIRAGEM : "Cultura de paz, juventude e medo-ambiente!" (abertura temática dos ´Encontros de Maio 2008´ com parceiros e convidados)
Participações especiais de Amneris Maroni (filósofa e psicanalista) e Tatiana Levy (escritora e tradutora) e de outros convidados já presentes nos Encontros.
17:00 horas - Lançamento do livro "Eros na passagem", de Amneris Maroni, filósofa e psicanalista, Unicamp/SP.
17:30 horas - Lançamento do livro "A chave da casa", de Tatiana Salem Levy, escritora e tradutora/Rio.
18:00 horas - Conferência de abertura: "Equilíbrio Ambiental. é possível governar pensando nisso?", com Eduardo Jorge, médico e atual secretário do Verde da prefeitura de São Paulo.
20:00 horas - encerramento do primeiro dia no CIC.
Dia 27 de maio - terça feira
*Viragem cultural no Centro Integrado de Cultura - Cinema do CIC
14:30 horas - Cultura Brasileira na perspectiva do Teatro, com Romário Borelli/PR, autor de O Contestado.
16:30 horas - Tradução fílmica, com Maria Célia Martirani/Universidade de São Paulo, autora de Recontando.
18:30 horas - Encerramento do segundo dia no CIC.
Dia 28 de maio 2008 - quarta-feira
* Dar o que pensar em Atos!* Cidade Futura - 10 anos
14:30 horas - "Eu que nasci depois de 68" e escrevi todas essas coisas - histórias contadas do "Diário Noturno" - uma conversa com Gabriel, O Pensador* e sessão de autógrafo em espaço anexo, depois de sua apresentação.
16:30 - ""1968 - O que fizemos de nós", uma conversa com Zuenir Ventura*, jornalista e escritor, que dá detalhes do significado de seu novo livro quarenta anos depois.
* A conversa com Zuenir registra os 10 anos da "Oficina de projeto Cidade Futura", lançada nos Encontros de Maio de 1998. Zuenir volta a Floripa para nos Encontros 2008 conversar sobre o seu novo livro 1968 - O que fizemos de nós, editora Planeta. O escritor fará sessão de autógrafo do seu livro em local anexo ao auditório do Cic.
* *A conversa com Gabriel registra o lançamento da campanha pela "biblioteca Bom de Ler", do Instituto Cultural Bom de Bola - Parati, com apoio cultural da Cidade Futura e Fundação Catarinense de Cultura, entre outros parceiros. O escritor-artista faz lançamento e sessão de autógrafo dos seus livros Diário Noturno e Um garoto chamado Rorbeto.
* * * Os livros de Zuenir Ventura (editora Planeta) e de Gabriel O Pensador (Cosaic Naif e Hip Hop), entre outros, já integram o primeiro lote do "banco de livros" destinados para a formação da "biblioteca Bom de Ler".
* * * * A campanha pela "biblioteca Bom de Ler" será lançada no dia 28 de maio de 2008. Saiba como participar e outras informações nos sites www.cidadefutura.com.br ; www.fcc.sc.gov.br; www.bomdebola.org.br - telefones (48) 3233 5282
18:30 - Encerramento dos Encontros de Maio 2008.
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1968 - 40 anos!
No dia 29 de maio, quinta-feira, a Cidade Futura realiza em parceria com a Fundação Catarinense de Cultura, a UFSC e a Assembléia Legislativa de Santa Catarina os atos "1968 - 40 anos!
Em sessão solene da Assembléia Legislativa, serão feitas algumas homenagens a catarinenses que viveram intensamente os anos 60 e a palestra-lançamento do livro "1968: O que fizemos de nós", do escritor e jornalista Zuenir Ventura.
Os Atos "1968 - 40 anos!" será realizado no plenário da Assembléia Lesgislativa, a partir das 16 horas. Consulte a programação oficial da Assembléia nos sites dos organizadores.
Oficinas de Maio - Conversas - projetos - lançamentos
"Oficina de Maio" com Amneris Maroni
Tema: "Eros na Passagem: uma leitura de Jung a partir de Bion" e "E por que não? Tecendo outras interpretações".
Data: 26 de maio de 2008
Hora: 09:00 às 12:00 horas da manhã
Local: Salão das Flores - Hotel Quinta da Bica Dágua
Curso com Tatiana Levy
Data: 27 e 28 de maio de 2008
Tema: *A experiência do Fora: Blanchot, Foucault e Deleuze.
Hora: das 8:00 às 12:00 horas da manhã
Local: Auditório do CCE - Centro de Comunicação e Expressão/UFSC
Atenção! - Dia 29 de maio - quinta feira
16:00 horas - 1968 - 40 anos! sessão solene na Assembléia Legislativa/SC
17:00 horas - Palestra com Zuenir Ventura e lançamento do livro 68 - O que fizemos de nós, anexo plenário da Assembléia. Ver programação oficial da Assembléia.
Realização e apoios
Assembléia Legislativa de SC, Fundação Catarinense de Cultura, UFSC e Cidade Futura
Nas tardes de maio VIDAS CONTADAS
As folhas caem. As flores de maio não morrem jamais.
Nas Tardes de Maio acontecem as Oficinas literárias e filosóficas na tenda experimental do projeto Bom de Ler.
Durante três dias (26 - 27 E 28), os Artistas da Palavra convidados pela Cidade Futura e a Fundação Catarinense de Cultural, participam da VIDA CONTADA - histórias de crianças e jovens na Estação Cultural BOM DE LER*.
* * * * * O projeto Bom de Ler é uma iniciativa do Instituto Cultural Bom de Bola, com investimento social da Parati, o apoio cultural da Cidade Futura e da Fundação Catarinense de Cultura. Mais informações: www.bomdebola.org.br/bomdeler
As oficinas aconteces nas tardes de maio, na tenda Bom de Ler montada em frente do CIC. Conheça a programação.
Autores e palestrantes
Amneris Maroni ("Eros na passagem" e "E Por que não?"), filósofa e psicanalista e professora da UNICAMP.
Eduardo Jorge (da secretaria do Verde do município de São Paulo), médico e ecologista.
Gabriel, O Pensador ("Um garoto chamado Rorbeto" e "Diário Noturno"), parceiro da Cidade Futura e da Instituto Cultural Bom de Bola - Parati no projeto Bom de Ler.
Maria Célia Martirani (de "Recontando" e vários contos publicados), professora, tradutora e escritora.
Romário Borelli (autor de "O contestado"), pesquisador e diretor de teatro, ex-integrante do Arena, participou de grandes montagens como como "Roda Viva".
Tatiana Levy (de "A experiência do Fora" e "A chave da casa"), talento da nova geração de escritores brasileiros reconhecidos; é tradutora e doutora em literatura.
Zuenir Ventura ("68 - o ano que não terminou" e "68 - o que fizemos de nós"), jornalista e um dos personagens que viveu e vive intensamente as gerações de juventude de maio de 1968 a 2008 - é será um dos homenageados da Cidade Futura nestes Encontros.
Na sua "missão impossível" de contribuir para "Republicar o Brasil", a Cidade Futura convidas seus leitores, autores e projetos parceiros para conversar com os artistas da palavra, participar das Oficinas de Maio e na criação experimental da Estação Cultural Bom de Ler com o lançamento da campanha pela "Biblioteca Bom de Ler" - uma iniciativa do Instituto Cultural Bom de Bola que tem o investimento social da Parati, o apoio cultural da Cidade Futura e o apoio institucional da Fundação Catarinense de Cultura.
Realização Cidade Futura
Apoios institucionais
Fundação Catarinense de Cultura e da Universidade Federal de Santa Catarina com as inscrições UFSC/CCE-CFH-CED.