Prestes a completar 41 anos de existência, em 19 de setembro, o Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, na Capital, terá suas atividades temporariamente interrompidas. A partir de segunda-feira, os filmes darão lugar às obras da reforma do Centro Integrado de Cultura (CIC), onde o cinema está abrigado. Curiosamente, o filme japonês A Partida, de Yogiro Takita, encerra a programação deste ano.
O gerente de pesquisa e tombamento da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Halley Filipouski, lembra que esta primeira fase da reforma abrange toda a parte esquerda do CIC, que inclui o Museu de Arte de Santa Catarina (MASC) e o cinema.
- As obras iniciaram em maio e a programação do cinema não havia sido interrompida até agora em respeito ao público, para não haver tempo muito prolongado de interrupção - afirma.
Agora não dá mais para esperar. Serão trocados o carpete, a forração das paredes laterais e o forro, além da instalação de um novo ar-condicionado, que vai abranger todo o prédio. As poltronas foram trocadas recentemente - são as mesmas do Cine York, que fechou as portas no ano passado e funcionava no Centro Histórico de São José. Uma novidade que trará mais conforto aos frequentadores será a instalação de um foyer, ou seja, um ambiente de 24 metros quadrados para a recepção do público, com uma bomboniere e a bilheteria.
O gerente do cinema, Gunnar Gerlach, lamenta a data do fechamento, pois tinha agendado o lançamento do curta Beijos de Arame Farpado, de Marco Martins, e um ciclo dos primórdios do cinema francês. Para ele, setembro e outubro são meses bons de bilheteria.
- O fechar não é ruim, só podia ser um pouquinho mais para frente. Mas teremos boas novidades, há males que vêm para o bem.
O pai, criador e curador do clube de cinema, Gilberto Gerlach (foto), está feliz com o fechamento. Diz que agora vai tirar férias, depois de 25 anos de dedicação ininterrupta, tempo que o cinema funciona no CIC.
- é só motivo de júbilo, nunca foi feita uma reforma ali. A professora Anita (Pires, presidente da FCC) nos pediu sugestões. Os projetores são bons, mas vamos melhorar as lentes e o sistema de som. Agora vou acompanhar as mostras de cinema do Rio e de São Paulo e cuidar da publicação do meu livro sobre Desterro - adianta.
O jornalista, cinéfilo e blogueiro Jeferson "Fifo" Lima acredita que a reforma é motivo de comemoração.
- O que se perde durante este período é o Gilberto como um curador. Sem o Clube de Cinema Desterro, como poderíamos assistir, por exemplo, a Arca Russa, O Sacrifício ou Dogville, filmes de pouco atrativo para o grande público, mas essenciais para quem gosta dos desafios que a linguagem cinematográfica pode apresentar.
Ao mesmo tempo, Fifo lembra que há outros espaços para o cinema de arte na Capital que podem servir de alternativa para quem frequenta o cinema do CIC.
Foto: Glaicon Covre