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Considerado um dos mais importantes intérpretes do piano romântico no mundo, Arthur Moreira Lima faz apresentação única no Teatro Governador Pedro Ivo, inaugurado recentemente pelo Governo do Estado, em Florianópolis. O concerto, inicialmente programado para acontecer na semana de abertura do espaço, no final de novembro, foi adiado em função da calamidade que se abateu sobre o estado. "Tivemos que atrasar, pois a situação foi realmente muito grave. Mas agora é também hora de agir, agradecer o apoio recebido e, principalmente, nos ajudarmos. Mais do que nunca é necessário oferecer mais espetáculos, mais arte. A arte tem poder de reagir frente às intempéries. Ela nos deslumbra, nos deixa feliz, nos emociona e, acima de tudo, ajuda a levantar a moral, a auto-estima, para que possamos continuar como a vida que não acabou", observa o pianista.

Neste concerto Moreira Lima apresenta um repertório de clássicos mais populares, entre eles Chopin, Mozart, Bach, Beethoven, e outros compositores do universo erudito que ele mesmo ajudou a popularizar como Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga, Piazzola e Pixinguinha, além de algumas surpresas.

Desde o início dos anos 90, Arthur possui uma casa em Florianópolis e, a cada ano, passa mais tempo em Santa Catarina do que na sua terra natal, o Rio Janeiro, onde também tem residência. A escolha se deve à busca de qualidade de vida.

Observador atento, acredita que o Estado tem muito mais a oferecer em termos de cultura do que se imagina: "Santa Catarina é uma praça muito forte, muitas vezes mais fácil do que Paraná ou Rio Grande do Sul. O povo daqui é entusiasmado, tanto que qualquer espetáculo de qualidade que é oferecido lota, as pessoas comparecem. Aqui há sede cultura e um campo enorme a ser explorado". Para ele, "muitos produtores estão bobeando ao trazerem apenas eventos que já estão programados para os estados vizinhos." Defensor da cultura como prioridade, ele acredita que "se Florianópolis, Joinville, o Vale do Itajaí e mais outras cidades como Jaraguá do Sul e Criciúma se unissem em torno desta causa, teríamos agradáveis surpresas. Falta um pouco de visão tanto da iniciativa pública, mas principalmente da privada, que não quer arriscar, não quer ousar."

Com a tarimba de um erudito que já se apresentou em favela, com o mesmo rigor e disciplina de uma apresentação nos melhores teatros da Europa, ele é um defensor da difusão da cultura onde o povo está, ou seja, levar espetáculos onde não existe sequer estrutura física para isso. Como outros artistas e produtores locais, também comemora a abertura de mais um teatro, na capital. "Um teatro é sempre bem-vindo, Florianópolis está se preparando para cada vez mais consumir cultura e arte. Precisamos agora é criar ações, testar, ousar nas produções e apresentações. O Pedro Ivo é mais um queijo na nossa mão, temos agora é que usar a faca", conclui o artista.

Em 2009, Arthur volta à estrada no projeto Um piano na estrada, para levar música erudita a quem não tem acesso, ou mesmo não conhece. Ele prepara turnê especial pela região Sul, principalmente Santa Catarina, que vê como um enorme campo artístico cultural.

O que: Concerto de piano com Arthur Moreira Lima

Onde: Teatro Governador Pedro Ivo, bairro Saco Grande, anexo ao Centro Administrativo do Governo do Estado, na Rodovia SC - 401, Km 5, nº 4.600, Florianópolis.

Quando: quinta-feira, dia 11 de dezembro, às 20:30

Como: ingressos à venda na bilheteria do Centro Integrado de Cultura - CIC, das 14h às 19h e sábado e domingo, das 14h às 18h.

Quanto: R$20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia)- vendas somente a dinheiro

Saiba mais:

O Pianista:

Nascido no Rio de Janeiro, Arthur Moreira Lima começou a estudar piano aos seis anos e, já aos nove, tocava um concerto de Mozart com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Foi aluno de Lúcia Branco (também professora que incentivou o jovem Tom Jobim a tocar suas próprias composições, ao invés de se tornar um pianista clássico). Em 1959 foi estudar com a professora Marguerite Long, em Paris, e ficou três anos. Em 1963, ganhou uma bolsa para aquele que era, na época, o mais prestigiado nicho formador de pianistas do mundo: o Conservatório Tchaikovsky, em Moscou. Estudou lá durante cinco anos. E depois, ficou mais três, fazendo pós-graduação e sendo assistente de cátedra do grande mestre Rudolf Kehrer. Nesse meio tempo, obteve o segundo lugar no Sétimo Concurso Chopin, o mais prestigiado do mundo, realizado em Varsóvia, em 1965. Preferido do público, foi ovacionado durante vinte intermináveis minutos. Começava ali sua carreira internacional.


"Certa madrugada paulistana, alguém confundiu, no balcão de uma padaria da rua da Consolação, Arthur Moreira Lima com um mágico. Ele vinha de um concerto seguido de um jantar prolongadíssimo, e ainda vestia a casaca de músico, daí a confusão.

Isso aconteceu no começo de 1971, numa das primeiras vezes em que Arthur vinha tocar no Brasil, na época, ele morava em Viena. O inusitado da situação fica por conta do acerto involuntário: incapaz de qualquer truque de prestidigitador, Arthur Moreira Lima é, sem a menor dúvida, capaz da mais alta magia em seu ofício. O inusitado da localização: afinal, quantos pianistas eruditos bem sucedidos podem ser encontrados, num fim de noite, num balcão de padaria? Fica por conta de uma das mais marcantes características de Moreira Lima: sua irremediável vocação para a matreirice carioca, seu talento inquebrável para manter muito da irreverência juvenil, sua obstinada proximidade com o dia-a-dia do brasileiro. E esta é, possivelmente, a melhor maneira de descrever Arthur Moreira Lima: o mais brasileiro dos grandes pianistas de formação erudita da nossa história", conforme descreve o jornalista e escritor Eric Nepomuceno, no autor de sua biografia, no site oficial do músico.

Por volta de 1978, Arthur Moreira Lima arriscou trocar duas décadas de prestígio na Europa pelo Brasil. Cansado de ser estrangeiro em outros países, se sentia realizado como pianista, mas queria ser realizado como brasileiro. "Lá fora, as coisas estão feitas, estão prontas. Aqui, não. Eu sentia que no Brasil poderia participar do processo cultural, de maneira ativa. Sabia que num país com uma elite pequena e indefinida como é o Brasil, tentar democratizar as coisas, no meu caso, a música, seria extremamente difícil. Mas sabia também que valia a pena", reflete para completar: "acredito que estou dando minha contribuição". Com uma média de 90 apresentações por ano, tocando para as platéias mais diversas nos lugares mais inusitados, ele certamente contribui, e muito, nessa tentativa de democratizar o que normalmente é privilégio de pouquíssimos: a música, a arte em seu estágio mais nobre, ou seja acessível, indo onde o povo está.

Neste sentido, o pianista tem sólido trabalho de resgate e difusão das raízes culturais brasileiras. Foi solista da primeira audição do Concerto n. 1 de Villa-Lobos no Japão, Rússia, áustria e Alemanha. Foi também o pianista que fez reviver a obra de Ernesto Nazareth. Por seu trabalho discográfico no Brasil, recebeu por duas vezes consecutivas o Prêmio Sharp (1989 e 1990). Nos Estados Unidos, seu CD da obra de Ernesto Nazareth foi incluído na lista das melhores gravações do ano da Stereo Review Magazine. Um CD de Chopin Favourites lançado no Japão pela Nippon Columbia continua como um dos best-sellers da companhia.


O escritor Nepomuceno completa a sua descrição do pianista com uma pergunta: qual o espanto provocado por Arthur em boa parte da crítica?

"Justamente sua negativa a aceitar fronteiras rígidas entre o erudito e o popular, entre arte maior e arte menor. Para ele, são diferentes expressões de uma mesma cultura rica, diversificada e em eterna ebulição. Tocar Chopin e Mozart em praça pública, em praia ou numa favela com a mesma dedicação com a qual enfrenta as platéias mais exigentes e sisudas do mundo tocando Nazareth e Pixinguinha é, para Arthur Moreira Lima, uma questão de princípio. Sente-se especialmente gratificado quando constata a emoção de alguém que nunca havia visto um pianista de sua estatura tocar Chopin e isso, certamente, só ocorre quando ele procura o público mais amplo, justamente aquele que normalmente é segregado dos grandes teatros dedicados à erudição. Se o trabalhador não tem como ir ao Municipal ouvir Chopin, Arthur leva Chopin ao trabalhador. Assim de simples, assim de justo.

Misturando Liszt, Nazareth, Chopin, Piazzolla, Bach, Villa-Lobos, Mozart e Pixinguinha, Moreira Lima conquistou o público: conseguiu democratizar a música erudita e valorizar, em sua devida dimensão, a música popular. E tudo isso sem concessões, com rigor extremo. Arthur Moreira Lima cumpriu cinqüenta anos de carreira com o entusiasmo de estreante, intacto, intocável. Quem observar com a devida calma sua trajetória chegará a conclusão de que ele poderá perfeitamente inscrever seu nome entre os maiores da história do piano e dos intérpretes de música erudita do Brasil. Poderia. Mas, de fato, o que ele fez e vem fazendo é inscrever seu nome na história da cultura deste país.

De todas as suas atividades, uma se sobressai, definitiva: empregar seu vasto e singular talento na busca da democratização da música, a mais nobre das artes. Arthur Moreira Lima deixou, há um bom tempo, de ser apenas um dos maiores pianistas da história brasileira. Ele é um dos nomes mais importantes da nossa cultura."