Espírito de Porco, documentário que estreia hoje em Seara, no Oeste do Estado, aborda o impacto da suinocultura industrial no meio ambiente por um ponto de vista bem inusitado: o de um porco que morreu e está de volta para defender sua espécie das calúnias que sofre. Dirigido por Chico Faganello e Dauro Veras, a obra usa artifícios de comédia para mostrar um drama catarinense.
O local escolhido para a estreia não foi por acaso. é no Oeste que está uma das maiores concentrações de suínos do planeta. Por isso também é que as cenas foram gravadas em cidades da região.
De acordo com Chico Faganello, que nasceu em Seara, onde trabalhou até os 14 anos na suinocultura, o filme chama a atenção para o fato de que a evolução tecnológica percebida nas grandes indústrias não é compatível com os meios utilizados para proteger o meio-ambiente dos dejetos suínos.
O tema desperta interesse em todo o Estado, mas a criação de suínos faz parte da história e da cultura daquela região. A atividade gerou prosperidade e alavancou o crescimento de grandes agroindústrias instaladas no Oeste, mas também provoca desequilíbrios ambientais. Segundo a Embrapa, em pesquisa realizada no ano 2000, a suinocultura contribui com 65% da emissão de poluentes no Estado e isto se deve ao uso insatisfatório de sistemas de tratamento de dejetos pelos produtores.
No documentário, o porco, que é o narrador, irrita-se porque o acusam pela poluição de rios, do solo e do ar. Com a participação de produtores, consumidores, pesquisadores e trabalhadores ligados à suinocultura industrial, o filme mostra que, em tempos de gripe suína, a relação entre os humanos e os animais da criação industrial precisa mudar.
- Em nome da produtividade e do lucro imediato, grandes indústrias não consideram a saúde humana, nem a do planeta. No documentário, especialistas sugerem mudanças que começam na alimentação do porco - comenta Faganello.
Para Dauro Veras, jornalista e roteirista, em sua primeira experiência de co-direção, "o consumidor também faz parte da história, mesmo que não tenha consciência de seu papel e de sua força".
Depois do lançamento desta quarta-feira, o filme será exibido em outras sessões, amanhã e sexta-feira, para alunos das oitavas séries da rede pública de ensino de Seara. A restrição do público se deve às cenas de sexo, violência e aos palavrões que têm no filme.
O documentário foi produzido com o prêmio de R$ 60 mil do edital de apoio à produção da Cinemateca Catarinense, ligada à Fundação Catarinense de Cultura. Uma equipe de 20 pessoas se envolveu na pesquisa e na produção do média-metragem.
Espírito de Porco foi selecionado entre 556 obras de 51 países para exibição no 11º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, realizado em junho na cidade de Goiás. Renato Turnes, que faz a voz do porco-protagonista, ganhou o prêmio de melhor ator na edição 2009 do Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM), com o filme ângelo, O Coveiro.