Depois de décadas de negociações, Santa Catarina recebeu em 29 de novembro de 2007 os restos mortais do poeta catarinense Cruz e Sousa, morto em 1898, em Minas Gerais. Para homenagear o artista, Governo do Estado, a Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte e a Fundação Catarinense de Cultura prepararam uma cerimônia no Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Sousa, no Centro de Florianópolis, onde ficarão os despojos do simbolista.
"Esta é uma conquista imensurável, foram mais de 30 anos até conseguirmos fazer a transferência dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina e prestar a este catarinense as devidas homenagens. Além disso, o acervo que hoje é aberto ao público catarinense e aos visitantes do Brasil e do mundo será enriquecido por mais esta memória de Cruz e Souza", afirma o secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte, Gilmar Knaesel. O secretário destacou uma equipe que cuidou de todo o processo de transferência dos restos mortais, que estiveram até hoje no cemitério São Francisco Xavier - conhecido como cemitério do Caju - no Rio de Janeiro. As reuniões aconteceram com os familiares do poeta catarinense, que vivem no Rio, e com a Santa Casa da Misericórdia, que administra o cemitério.
Em Florianópolis, inicialmente os restos mortais ficarão em uma urna de granito na sala Cruz e Sousa do Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Sousa, no Centro de Florianópolis, em local aberto para visitação. Até metade do próximo ano, deve ser inaugurado o Memorial, nos jardins do Palácio, onde a urna ficará em uma estrutura grande, com poemas do artista gravados nas paredes, e também com um espaço para café e para leitura de livros de escritores catarinenses.
Cruz e Sousa era filho de negros alforriados, nascido na Desterro de 1861. Sua tutela e educação nos moldes da elite da época ficaram com o Marechal Guilherme Xavier de Sousa, de quem adotou o sobrenome. A obra de Cruz e Sousa é marcada pela musicalidade, ora tomada pelo desespero, ora pelo apaziguamento, conforme os críticos. O sensualismo e o individualismo também estão presentes em seus poemas e na sua prosa poética. Cruz e Sousa foi precursor do simbolismo no Brasil, ao publicar Broquéis, em 1893.
Descendentes de Cruz e Sousa visitam Santa Catarina
Moradoras do bairro Realengo, no Rio de Janeiro, Dina Tereza Souza Borges, 68 anos, e Emilene Cruz e Souza, 32 anos, respectivamente bisneta e trineta de Cruz e Sousa, passaram vários dias de novembro de 2007 em Florianópolis.
Mais velha de seis irmãos, Dina conta que tinha em sua casa um baú com textos e fotos de Cruz e Sousa, relíquia que se perdeu em uma grande enchente, em 1988, quando o rio perto da casa onde ainda moram subiu rapidamente. "Ou a gente salvava as coisas, ou a nossa vida", lembra Dina, relatando que a água chegou a 1,5 metros de altura dentro da residência, e que todos os móveis e eletrodomésticos também foram perdidos.
Sobre o bisavô famoso, escutou parentes mais velhos relatarem que era uma boa pessoa, bastante tranqüila. Ela e Emilene lembram que o poeta já tinha um mausoléu no cemitério São Francisco Xavier, mantido pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. "O mausoléu é bastante visitado, inclusive por muitas pessoas ligadas à cultura", conta Emilene.
"Quando fomos questionados sobre a possibilidade dos restos mortais do poeta serem trazidos aqui para Santa Catarina, pensamos bem e concluímos que sua história está muito ligada a esse Estado, onde ele passou grande parte da vida", explica a trineta. Segundo Eduardo Macedo, no mausoléu do cemitério do Rio de Janeiro será instalada uma placa dizendo que os restos mortais de Cruz e Sousa estiveram lá por mais de um século. "Os ossos estavam quase intactos", relata Eduardo.