A Sala Lindolf Bell 2, no Centro Integrado de Cultura (CIC), recebe a partir desta terça-feira (4) a exposição "Entre a Phantasis e Das Unheimliche" da artista Adriana Mdos Santos. A mostra tem entrada gratuita e segue aberta à visitação até 27 de abril, de terça a sexta-feira, das 10h às 21h.
A estranheza poética exalada pelas personas do imaginário de Adriana Mdos Santos, nos avisa: ali não somos meros observadores, mas o sujeito do qual a obra se ocupa. Sua obra vai além de relatar a faceta existencial do indivíduo. O ser humano habita não na superfície da tela (ou da pele) mas no abstrato mundo interior de suas próprias forças e limitações. A figura humana - esse combinado de características enquadradas em pré-conceitos acerca da funcionalidade e harmonia do corpo, é apenas a superfície.
Foi do desenho para a pintura abstrata, em busca do que se passa nas profundezas do ser. Aos 23 anos, a artista encontrou, através da figura humana, o que buscava no abstrato. O encontro inusitado com um indivíduo de limitações mentais evidentes. Roupas pretas, rosto branco coberto de farinha de mandioca. Parou por uns instantes a encara-la, do outro lado do vidro de um ônibus. A imagem da loucura. Do abstrato foi para a poética do figurativo. Levou a temática para o mestrado em Poéticas Visuais, sob a orientação de um psicanalista. Desenvolveu os temas do doente mental e dos mutilados com uso de prótese e cadeiras de rodas.
O doutorado, na dramaturgia, teve como tema a pintura - a obra de Samuel Beckett - cujos personagens foram objeto de sua expressão na pintura e desenho. Beckett foi o fio condutor em torno de pintores como Margerita Manzelli, Jean Rustin e os irmãos Van Velde. Em seus processos de criação deparou-se com temas da psicanálise de Lacan, na definição de afânise, e com estudos de Sigmund Freud em Das Unheimliche. Idealizadora da coletiva Desenho de Monstro, este ano em sua 9a edição, Adriana confirma sua atuação no fomento das artes no estado de Santa Catarina.
A Poética do Estranhamento na Pintura
O estado de inquietação em face de algo que vai de encontro a padrões estabelecidos é tema que foi abordado por Sigmund Freud (1856 - 1939) em seu Das Unheimliche, ou O Inquietante Familiar, (ou ainda O Estranho Inquietante) estudo desenvolvido em 1919, que imprimiu uma perspectiva psicanalítica ao vocábulo. Segundo Freud, na história primitiva de cada indivíduo, aquilo que hoje é “repulsa” já foi objeto de bem-estar e desejo. O “estranhamento" seria o sinal da repulsa, resquício de um desejo que foi reprimido, em relação àquilo que o indivíduo traz em seu subconsciente como fonte de bem-estar mas do qual ele precisou recuar em prol de uma adequação social. Assim, o que é estranho tem como condição de sua estranheza uma familiaridade original: só se tem estranhamento em relação a algo quando se tem uma visão estabelecida de como aquilo "deveria ser". Tivesse o indivíduo se deparado com algo absolutamente desconhecido, e teria experimentado surpresa ou curiosidade.
Por sua vez, o termo afânise, do grego phanos, significa "luminoso". Phantasis (paroxítona, com sonoridade diferente e significado oposto ao do inglês phantasy), no contexto das observações e obra de Adriana Dos Santos, é empregado com o intuito de traduzir aquilo que existe e está presente, o aparecimento do ser. Dessarte, faz contraponto ao Aphanisis, definido na psicanálise de Lacan (1901- 1981) como o desaparecimento do sujeito. Aphanisis remete ao “apagamento” do brilho de estrela. É o brilho da estrela que informa que ela existe.
Serviço:
O quê: Exposição "Entre a Phantasis e Das Unheimliche", da artista Adriana Mdos Santos
Visitação: de 04 a 27/04/2023. De terça-feira a domingo, das 10h às 21h.
Onde: Sala Lindolf Bell II - Centro Integrado de Cultura (CIC)
Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600 - Agronômica, Florianópolis - SC.
Entrada gratuita
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